Merecer a miséria

Um bando de patetas atrevidos – ignorante e desonesto -, tomou com toda a facilidade os destinos do país. Fê-lo porque o povo se deixou embalar pelas grandiloquentes promessas dos que há muito prometem justiça e uma governação justa mas que, na hora da verdade, nunca a logram alcançar atribuindo as culpas sempre aos outros e ao jogo (democrático) desequilibrado que há partida sempre reconhecem estar viciado e por isso os condena a perder…

Se assim é de facto – e há tanto tempo – não será no mínimo pouco sensato voltar a jogar nos mesmos termos esse jogo sempre condenado à derrota, ou a vitórias inconsequentes?

Mas será inevitável que este estado de coisas se repita “ad aeternum”? Acusa-se o adversário – que é menos numeroso e mais primário, que “apenas” dispõe de mais dinheiro -, de ter manhas e, sobretudo, de ser capaz de superar divergências, de se apresentar unido, apesar das divergências por vezes caricatas entre comparsas. Ora se patetas infantilóides conseguem proceder desse modo seria de esperar que pessoas maduras, inteligentes e com bom senso – com menores recursos mas mais numerosas e sábias – o conseguissem com maior facilidade. Mas não é isso que acontece: Basta observar a generalizada ausência de alianças e de candidaturas conjuntas às próximas eleições autárquicas – ausência que em muitos casos oferece de bandeja a possibilidade de iníquas candidaturas, à partida condenadas ao fracasso, de disporem duma oportunidade de ganhar ou de ficar bem posicionadas -, para ver que a estratégia “do costume” continua em vigor e que os resultados previsíveis, por melhores que venham a ser, ficarão uma vez mais aquém das espectativas.

“O povo unido jamais será vencido” : é absolutamente verdadeiro e historicamente comprovado. Mas para o efeito é preciso que quem defende essa união, quem preconiza e deseja o fim desta pandilha no poder, confirme com factos, e não apenas com slogans nem com busca de culpados, que a todo o momento trabalha e está preocupado em superar divergências e em construir sinergias com todos os que são vítimas da situação que se vive e com todas as organizações que se identificam com essa vontade.

Se nos próximos tempos nada mudar, se tudo continuar na mesma, é forçoso concluir que o povo pouco aprendeu com a tremenda lição destes últimos anos e que está disposto a continuar a alimentar as ilusões que prolongarão no poder os mesmos de sempre ou os seus herdeiros, mais ou menos travestidos. É cruel reconhecer nesta circunstância a verdade das palavras de Antero de Quental: “O povo [que] esperar por salvadores e messias, que lhe caiam do céu, continuará na miséria – e será, até certo ponto, merecedor dela”.

Daniel D. Dias

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